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Casa Operária de Terceira Ordem

Galópolis, RS

Em 1891, com a greve na comunidade de Schio, devido aos conflitos salariais que passaram a ocorrer, tem-se a expulsão dos operários da Itália. Com apenas possibilidades de recomeço ofertadas pelo Brasil, os imigrantes de provenientes do Lanifício Rossi se instalaram e formaram um povoado na região de Galópolis. As condições topográficas e o potencial hidráulico de dois arroios, geradores de energia, foram determinantes para a instalação de um tear. Posteriormente, com o crescimento do Lanifício São Pedro, deu-se início à vila operária, onde os imigrantes aplicavam suas experiências quanto a sua estrutura, tendo clara a importância dos serviços básicos para o conforto e melhor desenvolvimento das suas atividades. 

 

A escolha de uma das casas operárias de Galópolis para objeto de estudo está pautada no resgate da originalidade da edificação e, além disso, do zietgiest dessa sociedade que foi um dos embriões do desenvolvimento da colônia italiana no Estado. A localização da casa, em área central e próxima a Igreja Matriz, permite explorar usos que fortaleçam as estratégias em busca da retomada da vivência coletiva e da cultura intrínseca deste povo. Embora apresente bom estado de conservação, algumas intervenções realizadas descaracterizaram a tipologia construtiva do período correspondente ao da edificação, o que faz-se ainda mais urgente o resgate desta desta originalidade, do valor histórico e urbanístico da unidade.

 

A proposta consiste na criação de um novo anexo que retoma as proporções originais da cozinha da residência numa linguagem contemporânea e reconhecível quanto sua historicidade, dispondo de uma estrutura independente que permite a reversibilidade sem que haja a perda da matéria original. A escolha de revestimentos metálicos na cor cinza chumbo contrasta com a textura avermelhada do tijolo, possibilitando uma leitura de fácil compreensão do conjunto. O sistema de proporção busca uma grelha baseada nas dimensões internas e alinhamentos com o pré-existente de modo que o aspecto formal associa-se à precedência, representando o lugar e a imagem que o objeto deseja expressar. Os painéis externos de madeira fazem ainda uma analogia às antigas casas operárias em madeira que existiam no local e constituem como um mecanismo de controle de luz quando movimentados.

 

As intervenções realizadas abrigam um novo uso voltado ao ambiente sócio-cultural que atualmente se demonstra deficiente no local com o fechamento do cinema e a desativação da sede do lanifício Sehbe. Outro fator determinante para não se restabelecer a funcionalidade original está na limitação da entrada de luz e ventilação no ambiente residencial, deficitário quanto ao modo de vida contemporâneo. Entretanto, a função não deve ser tratada como elemento prioritário, mesmo quando a obra tenha estruturalmente um objetivo funcional, como no caso da arquitetura, mas que quanto seu aspecto externo, este seja reconhecível pelo observador com relação as particularidades individuais que compõem a edificação.

 

Pesquisa e levantamento: Sara Caon, Ana Cláudia Almeida, Alex Martinotto

Projeto: Sara Caon

 

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